sexta-feira, 17 de abril de 2009


Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, de 16/03/08
Rejeição e culpa
DANUZA LEÃO
Para um filho, os pais devem amá-lo sobre todas as coisas e dedicar todos os momentos de sua vida a ele
NÃO É PRECISO muita coisa para que a gente se sinta rejeitado. A tendência natural é pensar que ninguém gosta da gente, ou pelo menos não tanto quanto se precisa. E disso se precisa muito.
Começando pelo básico: alguém acha que é -ou foi- amado suficientemente pelo pai e pela mãe?Claro que não. E aquele dia em que os dois saíram para jantar fora e ir ao cinema? Você, com cinco anos e resfriado, queria que eles ficassem a seu lado, contando uma história, e dessa noite nunca se esqueceu. É a maior prova de que eles jamais gostaram de você. E quando eles se separaram, a culpa não foi toda sua? E quando o pai, já separado, foi convidado para aquele fim de semana de sonho, e propôs trocar o tal fim de semana que ia passar com o filho; ele se sentiu tão rejeitado e abandonado quanto um menino de rua, e o pai vai passar o fim de semana -e o resto da vida- massacrado pela culpa. As crianças vão para o analista se queixar dos pais, os pais vão para o analista para dizer que foram péssimos pais, e assim la nave va.
Mas um dia essas crianças crescem, se casam, têm seus filhos, se separam, se apaixonam e agem com seus filhos exatamente como seus pais agiram com ele.
Vão todos para o analista, claro, e aos 50, 60 anos, continuam se queixando; um de ter sido rejeitado, o outro sofrendo por não ter dado mais atenção aos filhos. Todos têm razão, claro, mas querer que um pai ou uma mãe aos 25, 30 anos, em plena juventude, com os hormônios explodindo, passem as noites em casa contando histórias para os filhos na hora de dormir é contra qualquer lei da natureza, e um dia eles vão entender. Qual seria a solução? Ter filhos aos 40, depois de ter feito todas as loucuras? Não sei.
Para um filho, os pais devem amá-lo sobre todas as coisas, e dedicar todos os momentos de sua vida a ele.
Eu conheço um que, aos 45, leva a namorada para a praia para vê-lo surfar, e ai dela se se virar para pegar um sol nas costas. E ai daquele pai que uma noite não pode passar uma hora jogando um joguinho na televisão porque precisa entregar um trabalho no dia seguinte. Se tiver marcado um cinema, esse filho, aos 40, ainda vai lembrar do assunto, achando que seu pai e sua mãe não foram como deveriam ter sido -e sofrendo, claro.
Queremos atenção total dos que nos cercam, sobretudo quando somos crianças, e quando envelhecermos é que vamos saber o que é falta de atenção de verdade. Para que isso não aconteça, é preciso ter vida própria, e desde cedo.
Mas quantos momentos teriam sido tão bons, se mãe e filho pudessem se dizer francamente "naquele dia quase te matei, de tanta raiva", e darem uma boa risada, lembrando.
Porque isso acontece, entre pessoas normais. E falar também dos momentos, jamais verbalizados, em que a mãe amou -e ama- esse filho loucamente, mais que qualquer coisa na vida, e que depois que ele cresceu nunca mais disse, porque não faz parte da nossa cultura fazer declaração de amor a filho grande, até porque ele é o primeiro a não querer ouvir essas coisas depois que cresce, olha que mundo mais louco.
Ah, se a gente pudesse botar eles no colo quando desconfia que estão tristes, e abraçar, apertar, cobrir de beijos, como quando eram pequenos; mas como eles cresceram, não se pode.
Mas ah, se eles soubessem; ah, se a gente conseguisse dizer.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O segundo filho

Ques és tu, filho de minhas entranhas?
Quem és agora, tão diferente tão distante. O que fiz a voce, senão abraçar-te, acariciar-te?

A quem pertence esta personalidade desconhecida, fria, malcriada, indiferente aos teus?

Até pouco tempo atrás, voce não era assim. O que te mudou, quem te modificou? Ou não tens a sua própria personalidade?

Lágrimas derramei por voce. Tanta dor, tanto desamor vejo em teus olhos...

O que vejo, não adianta falar. Quando só, está aqui, demonstrando a fragilidade, a carencia. Acompanhado, é outra pessoa, outro homem que não é aquele a quem sempre devotei meu carinho, meus conselhos.

Voce se distancia... Voce fraqueja...

Eu sofro. Queria tanto te ver bem. Será que me enganei? Será que esta pessoa que vejo é a sua verdadeira personalidade? Até quando estará assim? Até o proximo romance ? (...) GMB